Se para Valdívio Soares Pereira, 68, o Maré Boa, a vida era uma constante diversão, o mais justo, pensava ele, era que o dia da sua morte também fosse tratado com festa. Morador de Barão de Cocais, na região Central do Estado, e proprietário de um bar há 15 anos na cidade, o empresário morreu no último sábado (20) e teve um velório digno dos pedidos que fez aos amigos e familiares nos últimos anos: muita música e bebida de graça durante a noite toda.

O velório de Maré Boa, que carrega no apelido o nome do próprio bar, chamou a atenção após um vídeo da despedida circular pela internet. Nele, é possível ver amigos do morto dançando em volta do caixão e fazendo brindes em sua homenagem.

Os filhos do comerciante ainda liberaram a máquina de Jukebox - onde se depositam fichas para pedir músicas - e autorizaram que amigos e parentes colocassem as músicas preferidas de Maré Boa para tocar. “Só não podia parar a música. Não teve nada de comércio. O pessoal ficou lá tomando a cervejinha dele, os refrigerantes e até café. Foi uma festa mesmo. Ele era muito feliz e não queria ninguém triste nesse dia”, contou o filho dele, o almoxarife Adriano Felipe Pereira, 48.

Para Maré Boa, segundo a família, cada dia era único. “Ele vivia como se realmente fosse a última oportunidade. Então sempre estava se divertindo muito”, disse Pereira. A “filosofia” do comerciante, contudo, também fazia com que ele acabasse não se importando muito com a saúde. “Ele era diabético, bebia, comia e não se cuidava. Queria viver a vida”, completou o filho. Na última quinta-feira (18), Maré Boa foi internado por complicações da diabetes, mas acabou não resistindo e faleceu no fim do dia do último sábado (20). O velório teve início às 1h do domingo (21).

Figura caricata e muito conhecida em Barão de Cocais, Maré Boa, de acordo com Pereira, não fazia questão de esconder o desejo de ser velado dentro do bar com muita festa. “Eu não considero um velório diferente. Só fiz o que ele pediu, e pediu há muito tempo. A vida toda ele falou disso. É o estilo dele. É uma figura. Eu fiz para agradar ele. A Bíblia fala para respeitar e obedecer o que os pais mandam. Então eu só fiz o que ele mandou”, afirmou o filho.

Cinzas. Além de ser velado dentro do bar, Maré Boa também fez um último pedido à família: que seu corpo fosse cremado e suas cinzas fossem guardadas dentro do estabelecimento. Nesta segunda-feira (22), ele foi cremado em Santa Luzia e, após a missa de sétimo dia, terá as cinzas depositadas no local. “Vamos só esperar a missa. Aí vamos pegar e colocar lá. Assim como ele queria”, afirmou o filho.

Sucessão. Pai de três filhos, Maré Boa, contudo, tem como principal seguidor o neto Guilherme, de 18 anos, também conhecido como “Marézinho”, em referência ao avô, que trabalhava com ele no bar e ajudou a organizar a festança do domingo. “Ele abria o bar, Marézinho ia, encontrava com ele, ficava com ele o dia todo, jogavam a sinuca dele. Agora com esses episódios da barragem, quando não tinha gente lá, era o Marézinho que ia fazer companhia. Ele é que vai cuidar do bar. O sucessor é o meu filho”, disse Adriano Pereira.