A jornalista Paula Jardim estava insatisfeita com o valor de sua conta e a necessidade constante de adquirir internet durante o mês. Desde a semana passada, ela trocou o plano de celular e aumentou em 30 vezes a sua capacidade de internet com uma redução de 37,5% na conta. “No plano pré-pago que eu tinha eram 250 MB. Agora terei 7,5 GB, mas não sei quanto consumo de internet por mês, nem se 7,5 GB é muito”, conta Paula. Segundo um estudo feito pela Associação Brasileira de Defesa do Consumidor (Proteste), 60% dos clientes não consomem toda a internet que contratam para o celular. Por isso, a economia de Paula poderia ser maior.

“As operadoras oferecem pacotes com muita informação, e o cliente pode adquirir serviços sem necessidade, pagando mais por isso”, explica o advogado da Proteste Renato Santa Rita. “Talvez o ideal seria personalizar os pacotes, o que não é possível na operadora”, avalia Paula.

Há cerca de um ano, o músico Octavio Cardozzo chegava a gastar R$ 500 por mês com a conta do celular. “Tinha tanta coisa cobrada nela que perdi o controle do que estava pagando”, relata. Ele trocou de operadora e, agora, o valor não ultrapassa R$ 70, mas, mesmo assim, ainda tem dúvidas quanto ao consumo de internet no celular. Em seu atual pacote, o músico tem 4 GB. “Sei que uso muito porque estou quase sempre na rua, mas, atualmente, nunca gasto a internet toda. Não sei qual o meu consumo mensal”, conta. Renato Santa Rita salienta a importância de se conhecer o consumo mensal da internet para escolher o melhor serviço. “Identificamos uma grande oferta de internet acima do que é utilizado nos pacotes”, avalia.

Segundo a advogada e presidente do Instituto de Defesa Coletiva (IDC), Lílian Jorge Salgado, o Código de Defesa do Consumidor (CDC) garante a informação clara. “O CDC fala que a informação fornecida de forma adequada é um direito básico do consumidor”, diz. “O artigo 39 considera prática abusiva quando a empresa se utiliza do desconhecimento do cliente para induzir a contratação de serviços”, acrescenta.

A professora Heloisa Rosa, 35, trocou o pacote de telefonia, mas não ficou satisfeita. “Agora, estou pagando mais, e minha internet não é o suficiente”, critica. Segundo ela, não adianta apenas informar a franquia. “A informação está lá, o número. Mas o que é possível navegar com 2 GB ou 4 GB? Eu não sei”, afirma. Outra reclamação de Heloisa, que tem um pacote de 2,5 GB, é que as promoções são restritas. “Eu uso internet para estudar, ver vídeo. Ter WhatsApp ilimitado, por exemplo, não me atende”, diz.

Brasil. Segundo a Proteste, a média de consumo diário de internet do brasileiro no celular é de 90 MB. O consumo é calculado levando em conta todos os apps utilizados no smartphone.

Comparação

América Latina. O Brasil é o país com maior número de internautas da América Latina, segundo um estudo realizado pela Statista, empresa alemã de pesquisas globais, no fim de 2017.

Mais caro. O estudo aponta que o custo mensal no Brasil, para acesso à internet de banda larga, é de R$ 124,72 para 60 MB. Na China, o valor médio é de cerca de R$ 58 para a mesma velocidade e, na Argentina, é de aproximadamente R$ 108.

São quase 40 planos diferentes

As quatro principais operadoras de telefonia celular que operam em Minas Gerais oferecem ao menos 38 planos diferentes de voz e dados, incluindo pacotes família, controle, pré e pós-pagos. “Quando fui trocar de plano, fiquei três meses pesquisando. É muita informação, e cada pacote tem um formato diferente”, conta a jornalista Paula Jardim.

Sem padrão, o consumidor tem dificuldade de comparar os pacotes. “As operadoras fornecem os pacotes de acordo com estudos concorrenciais e tentam se diferenciar com promoções de redes sociais liberadas”, avalia o advogado da Proteste Renato Santa Rita.

Em notas, as operadoras explicaram a metodologia para gerar as promoções. “A Oi direciona sua estratégia comercial com base em pesquisas qualitativas e etnográficas realizadas com clientes para ter ofertas de acordo com as suas necessidades e preferências”, afirmou a operadora.

“A Tim realiza pesquisas de mercado frequentes para definir os serviços que entrarão no portfólio. Hoje, a Tim oferece planos para todos os públicos”, declara a empresa. A Vivo destaca, na mensagem, o seu “amplo portfólio” e diz que “desenvolve ofertas com características e funcionalidades para promover o melhor uso da internet”.

Já a Claro diz que seus “planos são elaborados de acordo com as necessidades dos consumidores, entregando opções flexíveis, que atendam os mais variados perfis”.

Com mais alternativas, pós-pagos crescem

Os planos pós-pagos estão em crescimento no país, segundo a Proteste. “Existe uma migração dos planos pré-pagos para pós. Isso se traduz no aumento de pacotes pós-pagos no país”, afirma o advogado da associação Renato Santa Rita. Na Tim, o segmento pós-pago cresceu 11,4% em 12 meses. Mesmo assim, a base de clientes da empresa, 62,6%, ainda é de planos pré-pagos.

Na Claro, os clientes pós-pagos chegaram a 43,4% do total no primeiro trimestre deste ano. No mesmo período do ano passado, esse número era de 36,2% da base de clientes da operadora. 
A Vivo não informou o índice de crescimento, mas é a líder no segmento pós-pago, com 50,8% do mercado. A Oi foi questionada pela reportagem, mas não informou seus dados.