Por conta da falta de chuvas na região Centro-Oeste de Minas, o nível do Lago de Furnas segue caindo a cada medição feita pelo Operador Nacional do Sistema (ONS). De acordo com o secretário executivo da Associação dos Municípios do Lagos de Furnas (Alago), Fausto Costa, a situação de seca deste ano chegou a um nível pior que em 2014, quando o país atravessou uma das mais graves crises hídricas dos últimos anos.

 

 

Atualmente, o volume útil da represa está 14,15%, menos da metade do aceitável que seria 30%. O nível baixo das águas afeta diretamente diversos setores da economia e coloca em risco atividades como o turismo, piscicultura e agricultura irrigada na região composta por 34 municípios ao redor do lago. No Centro-Oeste, as cidades de Formiga, Pimenta e Capitólio são banhadas pela represa.

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Lago de Furnas em abril de 2020 e o mesmo local em setembro de 2021 em Formiga — Foto: José Eduardo/Divulgação

Lago de Furnas em abril de 2020 e o mesmo local em setembro de 2021 em Formiga — Foto: José Eduardo/Divulgação

A foto acima mostra uma área que fica no Clube Furnastur em Formiga. A primeira imagem foi registrada em abril de 2020 e a segunda, neste mês de setembro. A falta de água fez a taxa de visitação cair em 50%.

 

"A situação está crítica com volumes baixíssimos de água, pior do que a situação vivenciada em 2014. Com isso, muitos prejuízos econômicos, sociais e ambientais vêm recaindo há anos, especialmente sobre os empreendedores e profissionais dos seguimentos de turismo, piscicultura, agricultura familiar", destacou Fausto, secretário executivo da Alago.

 

O cenário não é favorável e mesmo com as poucas chuvas na região, para os próximos meses não é esperada nenhuma mudança significativa.

 

"Não podemos esperar nada de positivo para as águas de Furnas, visto que há necessidade de gerar muita energia para atender a demanda brasileira e não temos boas previsões de chuvas a curto prazo", disse Fausto.

 

No mês passado, o volume útil do Lago de Furnas estava em 18,2%, um número considerado um dos mais baixos da história para um mês de agosto. No entanto, a marca caiu para 14,15%. E a Alago e a ONS afirmam que o aceitável é acima de 30%.

O número vai de encontro com o alerta dado pelo governador Romeu Zema (Novo) durante evento de abertura do Processo de Tombamento dos Lagos de Furnas e Peixoto realizada, em Capitólio neste mês. O Chefe do Poder Executivo do Estado falou sobre um possível desabastecimento provocado pela crise hídrica.

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Baixo volume útil

 

A medição analisada quase se equipara à medição registrada no ano de 2001, quando o Brasil passou por um racionamento de energia que atrapalhou a retomada da economia. Naquele ano, durante o mês de agosto, o volume útil da represa chegou a 13,72%, caiu para 12,98% em setembro e só passou a subir a partir de outubro com o início das chuvas, atingindo 28,03% em dezembro.

No ano passado, em 25 de agosto de 2020, o volume útil era de 50,20%, segundo informações de Furna.

Ainda segundo a ONS, em dados gerais, sem avaliar apenas o mês de agosto, o pior registro foi em 1999 quando a represa atingiu 6,28% - queda histórica - e em 2017, quando a medição apontou 8,65%.

 

Monitoramento elétrico

 

No fim de agosto, o Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE), órgão presidido pelo Ministério de Minas e Energia, afirmou que houve uma "relevante piora" das condições hídricas no país. Segundo o comitê, é imprescindível manter todas as medidas em andamento e adotar novas providências para manter os reservatórios das hidrelétricas.

 

Desabastecimento

 

Em 22 de setembro, Romeu Zema disse que o abastecimento de energia elétrica em Minas Gerais está no limite e corre o risco de desabastecimento em algumas regiões do Estado.

 

"Estamos vivendo escassez de chuvas, consequentemente uma crise hídrica, que está se desdobrando para se tornar uma crise energética. Tenho acompanhado de perto e, a qualquer momento, corremos riscos de termos algumas regiões desabastecidas por energia elétrica. O nosso sistema está operando no limite, apesar de todas as usinas termoelétricas estarem funcionando", disse.

 

Na avaliação do governador, a situação do nível de água nos reservatórios das represas do estado pode ser considerado como calamidade pública.

 

"O caso de Furnas se repete em Nova Ponte e se repete em várias outras represas do Estado, é realmente uma situação, eu diria, de calamidade pública", declarou.

 

Zema, no entanto, concluiu o discurso com otimismo ao ressaltar investimentos em matrizes energéticas no país, como a fotovoltaica e a eólica.

"Temos recebido investimentos recordes na geração de usina fotovoltaica que cada vez mais compõe nossa matriz. A energia eólica, em outros estados, já que em Minas não é tão propício, caminha rapidamente. E espero que, em breve, possamos ter uma energia mais limpa, mais barata e que preserva o nível dos nossos reservatórios", concluiu.