Após as chuvas que caíram entre o fim de 2021 e os primeiros dias de 2022 na região do Triângulo Mineiro, o volume útil do reservatórios melhorou em 4 das 5 hidrelétricas, que fazem parte do subsistema Sudeste/Centro-Oeste, que é monitorado pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). O levantamento compara os dados atualizados pelo ONS no dia 21 de janeiro deste ano com os publicados em reportagens veiculadas em 6 de junho e 30 de agosto.

Atualmente, as usinas de Emborcação, Marimbondo, Nova Ponte e São Simão estão com os reservatórios com volume útil acima do registrado nos períodos anteriores. Já a hidrelétrica de Água Vermelha é a única que está abaixo do nível registrado em agosto, porém, está acima do apontado em junho.

Segundo o climatologista Lanzoerques Júnior, nos primeiros 12 dias de janeiro, o Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba acumularam 383,6 mm de chuva, quase 50% a mais do que o total esperado para o todo o mês. A Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) explicou os impactos das precipitações nos reservatórios. Veja abaixo.

 

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Situação das hidrelétricas

 

Conforme o Operador Nacional do Sistema Elétrico, o volume útil em 4 hidrelétricas do Triângulo Mineiro que fazem parte do subsistema Sudeste/Centro-Oeste está acima de 20%, sendo que duas estão com mais de 30%. O único reservatório abaixo de 20%, Água Vermelha está com 17,13% da capacidade.

Apesar do aumento dos reservatórios no período, o nível ainda está longe do ideal em relação à capacidade total do sistema. Vale lembrar que, quanto mais próximo de 100%, melhor.

A principal influência no aumento do volume útil foi o período chuvoso registrado entre o fim de 2021 e os primeiros dias de 2022. A política operativa realizada no sistema interligado nacional, que é coordenado pelo ONS, para que todas as usinas possam gerar energia no país também foi um fator importante.

 

Água Vermelha

A hidrelétrica instalada na divisa entre os municípios de Iturama (MG) e Ouroeste (SP), Água Vermelha pode gerar máxima de potência 1.396,200 Megawatts (MW) a partir das águas do Rio Grande. O lago é capaz de armazenar 2,13% do volume que pode ser armazenado pelo sistema.

Segundo o ONS, o volume útil no dia 4 de junho era de 7,74%. Já na última em 27 de agosto era de 20,29%.

Na última sexta-feira (21), o volume represado no lado foi de 17,13% da capacidade total.

Hidrelétrica de Água Vermelha em setembro de 2021 — Foto: Reprodução/TV TEM

Hidrelétrica de Água Vermelha em setembro de 2021 — Foto: Reprodução/TV TEM

 

Marimbondo

Outra usina que gera energia a partir das águas do Rio Grande, a UHE de Marimbondo fica entre os municípios de Fronteira (MG) e Icém (SP), e tem potência instalada de 1.440 MW.

Ela representa 2,64% do subsistema Sudeste e Centro-Oeste. Em 4 de junho, o volume útil da represa era de 8,21%.

Em 27 de agosto, havia subido para 13,71%. E no dia 21 de janeiro, a volume útil saltou para 21,33%.

 

São Simão

Localizada entre Santa Vitória (MG) e São Simão (GO), a UHE de São Simão opera com seis turbinas, que geram 1.710 MW a partir das águas do Rio Paranaíba. A energia produzida é suficiente para abastecer 6 milhões de habitantes.

A hidrelétrica representa 2,46% do subsistema Sudeste e Centro-Oeste. No início de junho, o reservatório estava com 10,09% do volume útil, enquanto que no fim de agosto operava com 21,24% da capacidade.

Após as chuvas que atingiram a região, o nível do lago chegou a 31,97% da capacidade em 21 de janeiro.

 

Emborcação

A UHE de Emborcação também está instalada no Rio Paranaíba, porém, em Araguari. A hidrelétrica é a maior do Triângulo Mineiro, representando 10,72% do subsistema Sudeste e Centro-Oeste.

Emborcação tem uma potência instalada de 1.192 MegaWatts (MW). Isso significa que a energia elétrica máxima produzida abasteceria duas cidades do tamanho de Uberlândia.

O volume útil do reservatório no dia 4 de junho era de 22,27% e em 27 de agosto operava com 11,77%. Na última sexta-feira, a situação na barragem era de 33,66%.

Ao lado de Nova Ponte, a hidrelétrica era uma das que mais preocupavam a Cemig. De acordo com a companhia, as chuvas registradas a partir da segunda quinzena de dezembro fizeram com que a vazão em Emborcação saltasse de 203 m³/s em 11 de dezembro, para 1.343 m³/s em 12 de janeiro.

 

Nova Ponte

Já a UHE de Nova Ponte fica no Rio Araguari, mas faz parte do subsistema do Rio Paranaíba, e representada 11,13% do subsistema Sudeste e Centro-Oeste.

Em 4 de junho de 2021, o volume útil da represa era de 15,99%. Após 84 dias, o reservatório estava com 12,06% em 27 de agosto.

Na última sexta-feira (21), o reservatório registrava 26,09% do total. O lago tem volume de 12.792 hm³ e potência instalada é de 510 MW.

Entre todas as hidrelétricas do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba que viveram situação delicada devido à grave crise hídrica que atingiu o Brasil, Nova Ponte foi a que registrou o pior cenário. A usina chegou a ficar abaixo dos 12% de volume útil e preocupou municípios, criadores de peixes e empresários.

O nível do reservatório chegou a ser tema de audiência pública na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG). Pouco depois da audiência, o volume útil baixou ainda mais, chegando a 10,93%, próximo do nível mínimo permitido para operação estipulado por legislação em 10%.

Assim como Emborcação, a usina registrou aumento da vazão graças as chuvas que atingiram a região entre o fim de 2021 e começo de 2022. Segundo a Cemig, em 11 de dezembro, a vazão era de 113 m³/s, enquanto que em 12 de janeiro era de 1.191 m³/s.

A vazão fez com que o nível do reservatórios subisse cerca de 7 m, fazendo com que a situação crítica para os produtores de tilápia da região saíssem da condição crítica.

Reservatório da hidrelétrica de Nova Ponte em julho de 2021 — Foto: TV Integração/Reprodução

Reservatório da hidrelétrica de Nova Ponte em julho de 2021 — Foto: TV Integração/Reprodução

 

Chuvas

 

Segundo o climatologista Lanzoerques Júnior, no início de 2021 a bacia do Rio Paranaíba foi a que mais recebeu chuvas acima do esperado para o período. A cheia do rio causou diversos danos e deixou muito desabrigados e desalojados em Patos de Minas.

 

"A chuva está muito acima da média, que em janeiro gira em torno de 260 mm, no entanto, só nos primeiros 12 dias o acumulado foi de 383,6 mm, quase 50% a mais do volume total esperado para o mês", afirmou Júnior.

 

O climatologista explicou, ainda, que as chuvas registradas em janeiro são resultado da formação de um sistema meteorológico denominado Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS), que tem por característica ocasionar muita nebulosidade e chuvas por vários dias seguidos.

"No episódio em questão a ZCAS atuou fortemente desde o setor noroeste, onde está Patos de Minas, à sudeste do estado de Minas Gerais, sendo mais ativa na parte central, onde fica a região metropolitana de Belo Horizonte", explicou.

Para concluir Lanzoerques afirmou que desde a última quinta-feira (20) a atmosfera voltou a ficar mais instável pela região após alguns dias de sol e céu limpo, porém, novas chuvas típicas de verão na forma de pancadas isoladas nos fins de tarde podem voltar a ocorrer.

 

Impactos das chuvas

 

Conforme a Cemig, as chuvas registradas nos últimos 40 dias contribuíram para a melhoria do armazenamento das hidrelétricas. No entanto, a sequência de anos com baixos níveis de precipitação resultaram no armazenamento crítico dos reservatórios.

Mesmo com a melhora, as barragens ainda estão distantes do enchimento pleno. O mês de janeiro está sendo de vazões acima da média histórica, chegando a 227% acima na hidrelétrica de Nova Ponte, por exemplo. A expectativa da Cemig é que as chuvas continuem acima do registrado normalmente entre os meses de fevereiro e abril.

 

"De qualquer maneira, dado o porte dos reservatórios, para compensar a sequência de 10 anos com chuvas abaixo da média, ainda seriam necessários mais alguns anos numa sequência favorável como a vivida até o momento para o total enchimento dos lagos" afirmou a companhia.

 

 

Conta de energia

 

A situação crítica dos reservatórios fez com que a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) criasse a bandeira tarifária "escassez hídrica" em agosto do ano passado. Com ela em vigor, o consumidor paga R$ 14,20 a mais na conta de energia para cada 100 kWh consumido.

De acordo com a Companhia Energética de Minas Gerais, a maior parte da conta de energia não fica com a distribuidora. Do valor total da conta, o consumidor paga pela compra da energia (custos de geração), pelo transporte (custos de transmissão) e pela entrega (custos de distribuição), além de encargos setoriais e tributos.

Ainda segundo a Cemig, do valor cobrado, 21,9% ficam na Cemig Distribuição e se destinam a remunerar o investimento, cobrir a depreciação dos ativos e outros custos da empresa. Os demais 78,1% são utilizados para cobrir encargos setoriais (13,8%), tributos pagos aos governos federal e estadual (28,2%), energia comprada (27,7%) e encargos de transmissão (8,4%).

Em Minas Gerais, o governador Romeu Zema (Novo) informou no dia 13 de janeiro que solicitou ao Ministério de Minas e Energia a suspensão da tarifa de "escassez hídrica", cobrada sobre a conta de energia no estado. De acordo com ele, o pedido se deve ao atual quadro de “recuperação econômica dos efeitos da pandemia, agravado pela crise das finanças estaduais” e pelas chuvas, vivido pelo estado.