O grupo chega sem fazer barulho. Em questão de segundos uma mesa é montada na área externa da Unidade de Pronto Atendimento (UPA), de Divinópolis. Não é preciso anunciar. Logo que o cheiro do caldo de feijão se espalha, os pacientes que ainda aguardam por atendimento e os acompanhantes vão em direção do grupo batizado de SOS UPA.

A ação é realizada há quase dois anos, sendo que o grupo vai à unidade uma vez por semana – às segundas ou terças-feiras –, e são distribuídos 170 copos de caldo pelo SOS UPA. "Sofrimento não é só estar aqui doente, mas também ficar com fome por falta de condição", diz a mentora da ação solidária, Maria do Carmo Melo, a Carminha.

A idealizadora sentiu na pele o que passavam as pessoas à espera de atendimento na UPA. Ela passou dois meses acompanhando um parente internado na unidade.

“Ficava vendo as dificuldades, o sofrimento de não ter um lanche, principalmente, para os acompanhantes. Infelizmente meu parente morreu, mas a partir disso, eu havia decidido fazer algo por estas pessoas da UPA”, relembra.

Continua após a publicidade

A ideia se materializou depois que, em um dos dias que ela estava na UPA, um grupo que promovia um café solidário no Hospital São João de Deus (HSJD) esteve na UPA distribuindo caldo. Eles não continuaram com a ação na unidade, mas serviu de inspiração para Carminha, que recrutou um grupo composto por membros da família dela e amigos para formar o SOS UPA.

São utilizados para o caldo, em média, 6 kg de feijão. Uma das participantes da ação solidária, Laura Carvalho, explicou que os ingredientes usados para a produção do caldo vêm de doações. Mesmo não sejam suficientes para a quantidade de caldo feito, o grupo não deixa de fazer a distribuição do alimento.

“Se conseguirmos doações, fazemos, se não conseguirmos, também fazemos – nem que seja do nosso próprio bolso. Muitos que vem na UPA não têm dinheiro para comprar um lanche, então nos sensibilizamos, fazemos isso com muito amor”, contou.

 

Solidariedade

 

O casal de idosos, Maria Aparecida, de 69 anos, e José da Costa Pereira, de 70 anos, é um dos beneficiados pela ação.

“Por causa de uma doença que meu marido tem, a gente precisa da UPA quase todos os dias. Para mim, o dia mais feliz é quando tem esse caldo. Sei que podemos passar horas aqui esperando sem fome”, comentou Maria.

A dona de casa, Flávia Barbosa dos Santos, é mais uma pessoas que reconhece a grandeza do gesto. Ela precisou passar horas na UPA esperando o resultado de um exame feito pelo filho de 2 anos.

“Estávamos há várias horas esperando, e meu filho estava me pedindo mamadeira. Comprar as coisas na rua é caro, e quando ele viu esse caldo foi logo me pedindo. Uma coisa simples, que significa muito para quem recebe”, elogiou a dona de casa.

Foi uma destas pessoas que fez com que Carminha não desistisse do projeto. Há três meses, o irmão da idealizadora do projeto foi vítima de um latrocínio em Divinópolis. Devido ao luto, Carminha cogitou encerrar o projeto. Foi o pedido de um paciente da UPA que fez ela repensar a decisão.

 

“Um senhor me procurou, me disse que ele e a esposa passariam a noite na UPA e ficariam com fome se não fosse o nosso caldo. Ele me pediu para continuar”, contou Caminha.

 

"Gratificante"

 

A voluntária do SOS UPA, Silvia Letícia, falou sobre o quanto é gratificante atuar no projeto.

“Toda semana vemos histórias diferente aqui. Histórias que mexem com a gente. É muito gratificante saber que o que fazemos está impactando a vida dos outros”, disse.

Silvana Cristina Cabral, que também é voluntária, compatilha da opinião de Sílvia e se orgulha do ato de solidariedade durante todo ano.

 

“No final do ano as pessoas ficam mais solidárias, mas a gente é o ano inteiro. A semana que eu não posso vir ajudar a distribuir o caldo, eu não me sinto bem”, revelou.

 

Recém-chegado ao SOS UPA, Gustavo Paiva contou que conheceu a ação por meio de um amigo em comum com a idealizadora do projeto. Desde então, passou a ajudar como pode.

“Inicialmente eu contribuía com doações, e agora estou doando também com o meu tempo. O caldo não significa só um alimento. Quando as pessoas vêm pegar o caldo com a gente, ela está se sentindo também acolhida, amada”, concluiu.