A Covid-19 afetou as relações interpessoais. Em tempos de pandemia, a principal recomendação é de isolamento social para que as pessoas evitem grandes aglomerações e, com isso, a consequente possibilidade de contaminação do coronavírus. O que seis amigos de Andradas, não imaginavam, é que isso afetasse também o almoço de frango caipira, marcado para o último dia 21. O que seria mais um encontro de amigos quase virou caso de polícia.

Tudo começou quando Alisson, o "Jatobá", se organizou com mais cinco amigos para almoçarem no rancho em que está morando provisoriamente para preservar a mãe, que é idosa. Quem é de Minas Gerais sabe o valor de juntar a turma para comer um frango caipira, mas, antes mesmo de desligarem o fogo das panelas, a campanhia tocou. Era a Guarda Municipal, que tinha recebido uma denúncia anônima de que Jatobá estava dando uma festa.

"Um amigo e eu estamos confinados num rancho no centro da cidade porque nossos pais são idosos e temos trabalhado normalmente. Saímos do serviço e fomos almoçar. Compramos um frango caipira e estávamos tomando uma cerveja e batendo um papo, quando chega a Guarda Municipal. Eles disseram que não podíamos nos reunir por causa do decreto do prefeito, e aí ele viu lá dentro que a gente estava em seis", conta Jatobá, respeitando o limite de dez pessoas para evitar aglomeração.

Ao voltar para dentro do rancho, localizado no centro de Andradas, Jatobá olhou um grupo de amigos da adolescência no WhatsApp, em que Rafael, o "Feijão", tinha mandado foto do amigo sendo interrogado pela Guarda Municipal. A reação foi automática, pensando que Rafael tivesse feito a denúncia. O áudio enviado, em bom 'mineirês', expôs a ira de Jatobá pela audácia de denunciarem um simples frango caipira.

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"Ô, chifrudo! Tamo fazendo um armoço e tamo em seis aqui, ô chifrudo. Foi ocê que denunciou, né? Corno. Em quantos cêis tão aí? Vou mandar a Guarda aí no seu apartamento. Quero até vê agora. Chifrudo! (sic)", continha o áudio enviado por Jatobá, que viralizou na cidade de Andradas.

Com a cabeça mais fria, Alisson afirmou à reportagem que não sabe se foi mesmo Feijão. O prédio da frente tem dez andares, podendo ser outras pessoas além do amigo. Ainda, que o rancho comumente recebe festas e por isso alguém pode ter interpretado que era mais uma das aglomerações. A reunião entre amigos, segundo Jatobá, também acontece com frequência, mas o almoço com frango caipira teve que ser mais reservado pelas orientações com o coronavírus.

"Nosso grupo é de amigos da adolescência. Quando fizeram a denúncia, a primeira reação foi xingar depois que mandaram a foto. Não chamamos todo mundo, porque como estamos em isolamento, só no grupo tem umas 30 pessoas. A gente decidiu no dia mesmo comer o frango caipira", comenta o prudente Jatobá.

Um dos não convidados foi Carlos, o "Ju", que tratou logo de dar um sermão em Jatobá, mesmo o amigo estando dentro das recomendações. Novamente em bom 'mineirês', um outro áudio mandado no grupo deu um tom ainda mais cômico para o simples almoço de sábado.

"Tá certim, Jatubá. Tem que prender ocêis mesmo. É seis? Num interessa, é agrupamento de pessoas. Você não entendeu i-so-la-men-to? O que é isolamento? Isolamento é ocê ficar dentro da tua casa, céguim! Então vai pra tua casa e fica lá ocê e tua mãe. Não é pra ficar no meio da farra e levar o'zoto. Se a gripe pegar ocê, ocê vai vê. Vai apanhar ainda, além de pegá gripe (sic)", trazia o áudio de Carlos.

A mãe de Jatobá é idosa. Ele tem 36 anos e trabalha plantando café. Como segue em contato com as pessoas, teme levar algum risco para casa e por isso tomou a decisão de morar por uns dias no rancho do amigo, que também o fez por precaução com os pais idosos. O almoço de sábado, com frango caipira, arroz e salada de alface com tomate aconteceu, mesmo quase virando um caso de polícia.